Você provavelmente já ouviu a frase “filho de peixe, peixinho é”. Alguns pais e filhos têm uma conexão tão grande que acabam gostando das mesmas coisas e seguindo os mesmos passos. Na 65ª edição dos Jogos Escolares do Paraná, Final B em Apucarana, vimos alguns exemplos disso, como o caso da aluna-atleta Bruna Alves de Curitiba, filha do mestre Regiano Alves, ex-atleta da Seleção Brasileira de Taekwondo, faixa preta 4 dan e graduado em Educação Física. 

Bruna Alves é faixa azul clara de taekwondo, esporte que está no sangue da jovem, e mesmo com o tornozelo contundido da última competição, na qual foi campeã do Curitiba Internacional Open após vencer três combates, representou o Colégio Madalena Sofia terminando em segundo lugar na categoria até 44 kg. “Tive uma certa dificuldade na luta, e por mais que eu tenha perdido foi bem legal ter medalhado na minha primeira participação nos Jogos”, falou a aluna de 13 anos. 

Tendo seu pai técnico, Bruna confessa que nem sempre a relação no tatame é apenas entre aluna e professor. “É um pouco difícil porque sempre acaba misturando. Em casa ele acaba dando uma de técnico e na academia de pai. Além disso, tem uma certa cobrança porque meu pai tem um nome no taekwondo e as pessoas acabam criando uma expectativa em cima de mim. Sou filha dele então acham que tenho que ser tão boa como ele era”. Mas, segundo Bruna, ter a presença dele nas competições é algo que a deixa mais tranquila. “É meu pai e eu tenho total confiança nele, então é bom ter ele na luta, vou mais confiante”, declarou. 

 

Luta categoria até 44 kg. (Foto: Thaise Oliveira/SEET-PR)

Luta categoria até 44 kg. (Foto: Thaise Oliveira/SEET-PR)

 

Há 30 anos no meio das artes marciais, Regiano Alves hoje é treinador do Colégio Madalena Sofia e participa de um projeto social na Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude desenvolvido no Centro de Esporte e Lazer Avelino Vieira, em Curitiba. “Faço um trabalho com atletas de várias idades e conto com a ajuda de alguns professores que colaboram com esse projeto. Para os jogos priorizamos trazer somente as meninas e as três medalharam. Elas ficaram bem contentes com os resultados e eu também. Pretendemos nos preparar para as próximas competições e, quem sabe um dia, uma dessas meninas poder chegar à uma Olimpíada”, contou o mestre. 

 

Durante as lutas das suas alunas, o mestre Alves chamou atenção pelo seu estilo dinâmico, algumas vezes se movimentando mais que as próprias lutadoras. “Cada técnico tem o seu estilo próprio e tem o seu rendimento pessoal, não tem como dizer quem é melhor e quem é pior. Eu sou bem intenso em tudo que faço na vida, então acabo me empolgando um pouco. Claro, dentro do tatame a arbitragem é quem conduz o combate, mas acabo me empolgando até no ímpeto de incentivar o atleta. Sempre digo que só o fato de competir é algo muito importante, a vitória é consequência, então dê o melhor naquele dia”, disse. 

 

Mestre Regiano orientando a aluna-atleta no intervalo da luta. (Foto: Thaise Oliveira/SEET-PR)

Mestre Regiano orientando a aluna-atleta no intervalo da luta. (Foto: Thaise Oliveira/SEET-PR)
 

 


Sobre ser o próprio treinador da filha, Regiano também afirmou que a relação nem sempre é de apenas professor e aluna, mas que isso não interfere no trabalho realizado. “Às vezes você consegue separar e às vezes não, é difícil ter o controle total. A gente procura ser profissional, mas confesso que às vezes mistura o sentimento de pai só que preciso me controlar para não atrapalhar o rendimento dela”. 

 

Diferente do que muitos podem pensar, a iniciativa de começar a treinar foi da própria Bruna e ainda precisou da aprovação do pai que resistiu um pouco. "Acredito que crianças abaixo de seis anos levam muito na brincadeira. Eu, particularmente, trabalho somente com crianças a partir dos seis anos. No caso da Bruna, eu quis proibir no início para aguçar mais ainda o interesse dela pela modalidade, pois a ideia principal sempre foi que ela fosse atleta de alto rendimento", disse Regiano. Bruna Alves, também falou a respeito. “Eu até queria ter começado a treinar bem antes, mas ele falava que eu não ia levar a sério, que eu tinha que ficar um pouco mais velha. Quando completei sete anos ele deixou. Antes eu treinava por treinar. Comecei a participar de um campeonato e outro e fui gostando cada vez mais. Hoje eu amo o taekwondo. Se não for uma carreira como atleta pelo menos vai ser algo que vou levar para a vida inteira”. E ainda deixou um recado para o professor, técnico e pai. “Pai, eu quero te agradecer e dizer que você é tudo de bom pra mim em todas as áreas da minha vida. Muito obrigada”, finalizou.