Entende-se por Espasticidade, uma alteração no tônus muscular, ou seja, um aumento na tensão elástica,uma rigidez do músculo. É causada em decorrência de doenças neurológicas como lesão cerebral (paralisia cerebral), acidente vascular cerebral(AVC), tumores, etc.

Em relação à criança, essa rigidez compromete o caminhar levando a dificuldade de subir e descer degraus e rampas, correr, manter-se em pé, provocando inclusive quedas.

Melhorar essa mobilidade articular na marcha exige um verdadeiro trabalho em equipe: #Medicina, #Fisioterapia e #Esporte, #Família e #Amigos.

Como já apresentei em artigo anterior, Enzo meu filho teve como sequela do nascimento prematuro, a lesão cerebral na área do equilibro.

Por neuroplastia, capacidade do cérebro em refazer em outra área a função prejudicada, Enzo refez, mas a espasticidade que o acompanhava, mesmo com fisioterapia, ainda atrapalhava seu andar.

Aplicações de Botox foram feitas e obtivemos muitos ganhos, mas ao passar do tempo, com crescimento, houve necessidade de realizar uma nova técnica para então melhorar a mobilidade no andar, a Cirurgia de Transposição de Tendão; e digo, para Enzo, o resultado foi excelente.

Pedi então à Dra. Adriana Pazin, ortopedista pediátrica, do Hospital Uniorte, que acompanha meu filho desde os 2 anos de , que explicasse o que é a Transposição de Tendão para que todos possamos entender, saber para que serve e quando utilizar.

Dra. Adriana em seu relato diz: "A criança com espasticidade, muitas vezes adquire posicionamentos indesejáveis das articulações, o que pode prejudicar a marcha ou mesmo seu posicionamento para ortostatismo (manter-se em pé, em posição ereta).

No caso do flexo de joelhos,uma das causas possíveis é o encurtamento dos músculos isquiotibiais (músculos localizados na parte posterior da coxa).

Quando o alongamento na fisioterapia não está sendo suficiente, podemos indicar o tratamento cirúrgico.

Para isso, existem algumas técnicas possíveis, mas a mais indicada, principalmente nas crianças que andam, é a transferência muscular.

Essa transferência, consiste na mudança da posição do tendão do músculo semitendíneo ou semitendinoso (um músculo da coxa), fazendo com que ele atue menos com flexor de joelho, porém mantendo sua função como extensor de quadril.

Desta forma, evita-se o desequilíbrio pélvico e facilita a extensão do joelho durante a marcha.

A cirurgia é seguida por um tempo de imobilização, a fim de que ocorra a cicatrização dos tecidos, seguida por fisioterapia para reaprendizado da nova função muscular."

Como sabíamos que Enzo precisaria fazer bastante repouso, agendamos a cirurgia no mês de janeiro quando ainda estava em período de férias. Após cirurgia, Enzo utilizou uma tala de imobilização por 2 semanas sem ao menos tirá-la para tomar banho. Com 15 dias, tirávamos apenas para o banho e logo recolocávamos. Com praticamente 30 dias Enzo voltou para escola ainda com muitos cuidados.

Para "reaprender andar", fizemos sessões intensivas de fisioterapia e trabalho extensivo da fisio em casa.

Quando Enzo pode retornar às atividades físicas, fomos orientados a buscar um esporte que o ajudasse a desenvolver o equilíbrio e fortalecer as pernas e a postura. Foi então que buscamos a modalidade Taekwondo.

Para melhor apresentar como a #fisioterapia em conjunto com o esporte #Taekwondo ajudou e ainda vem dando bons resultados após a cirurgia, pedi para a fisioterapeuta Carolina Spagnuolo Gongora Viana, bem como o Sabonim (nomenclatura utilizada para referenciar mestre no Taekwondo) Luís Antônio Gonçales, da #AcademiaNatáliaFalavigna relatar a evolução.

A evolução em termos de Fisioterapia

Enzo retornou às sessões de fisioterapia após 1 mês da cirurgia ter ocorrido.

Segundo a fisioterapeuta Carolina, ele chegou deambulando (termo usado para referenciar modo de caminhar, marcha) pequenas distâncias, tendo ganho maiores extensões de membros inferiores, porém necessitando fortalecê-los. Não conseguia subir ou descer degraus sem auxílio.

A cada mês Carol anotava em seu relatório, informações sobre a evolução, vejam algumas delas:

[...

Com praticamente um mês de fisioterapia, 3 vezes por semana, foi ganhando mais força e caminhando distâncias maiores; conseguiu subir um degrau pequeno com pouco auxílio. Ganhou também força nos extensores de tronco.

Entrando para o segundo mês de terapia, ganhou mais extensão de tronco e membros inferiores tendo uma evolução bastante satisfatória.

Do segundo para o terceiro mês, foram percebidos estirões de crescimento, precisando intensificar alongamentos nos membros inferiores e exercícios de fortalecimento de extensores de tronco.

Enzo melhorava a cada dia sua postura e equilíbrio, voltando a realizar atividades com mais confiança, independência e firmeza; passou a subir um degrau sem auxílio.

Além do alongamento, foram necessários exercícios para controle postural e equilíbrio, sendo mantidos nos meses seguidos.

...] e essas foram algumas informações do relatório de Carolina.

Com 3 meses de fisioterapia intensificada, Enzo passou de 3 para 2 sessões por semana, iniciando em paralelo, o esporte Taekwondo.

Para haver uma boa evolução, antes do papel do profissional de medicina, fisioterapia, e esporte, deve-se existir a aceitação e vontade de vencer da criança, e isso só acontece quando os pais se unem festejando os ganhos e mostrando a linha da chegada, como um prêmio pelo esforço realizado. A criança e sua família.

Para a criança entender, ela precisa sentir que algo muito bom está acontecendo com ela, lhe dando oportunidades maiores, de se fazer mais atividades que antes não lhe era possível realizar, e de uma forma mais tranquila e segura.

Enzo nesse ponto, colaborou muito, embora exausto de tanto esforço, via suas recompensas diariamente, nas conquistas de novos e melhores movimentos.

Vou relatar um fato que dirá tudo o que acabei de mencionar acima:

"Enzo sempre ia para o Taekwondo com uma preocupação... fazer cambalhotas na aula, mas mostrávamos a ele que tudo era questão de treino, assim como ele fez para andar.

Um dia, saiu da aula saltitando e muito feliz, contanto para todos que havia conseguido fazer cambalhotas sozinho. A felicidade dele era tamanha como se ele tivesse ganho um campeonato... e porque?? Simples, ele havia posto esse desafio como um objetivo, de tal forma que o encarou com determinação e ao vencer, a vitória se transformou em algo maior que muitos veriam."

Deste dia em diante, qualquer desafio para Enzo foi visto como maneira de vencer ele mesmo, e minimizar suas dificuldades.

A evolução em termos do esporte Taekwondo

Sabonim Luís relata como foram suas impressões ao receber Enzo nas primeiras aulas:

"A primeira impressão foi de que, ele necessitaria de um tempo maior para fazer 100% da aula, sem precisar direcionar determinados exercícios devido as suas limitações. Uma das maiores dificuldades do Enzo era subir em obstáculos; ele tinha certa limitação motora para fazer exercícios de subida e descida.

Hoje por exemplo, ele sobe e desce de um step sem nenhuma dificuldade, enquanto antes nesse exercício, necessitava de ajuda para se apoiar."

Sabonim, ainda diante de sua avaliação quanto a evolução do Enzo diz:

"A evolução dele é muito nítida já na hora que ele sobe para a aula, pois no começo ele precisava de ajuda para subir ou descer as escadas, e hoje ele sobe e desce sem dificuldades. Para fazer chutes, hoje ele consegue ter uma certa amplitude nos movimentos, e nos exercícios do tipo circuito, onde precisava de algo para se apoiar quando o exercício exigia tal equilíbrio, hoje ele consegue realizar com bom desempenho.

Um outro fator muito notável foi a evolução da coordenação motora fina, que tem apresentado nos movimentos de certos exercícios."

E esse foi o relato do Sabonin acompanhando Enzo nesses 5 meses de Taekwondo.

Quero ressaltar que após a cirurgia, o trabalho para reabilitação e fortalecimento dos movimentos foi praticamente em conjunto, medicina, fisioterapia, esporte e inclusive orientações na escola onde Enzo estuda.

Todo engajamento e dedicação conjunta resultou e ainda resulta em grande ganhos, tanto fisicamente quanto no emocional.

Como mãe? Vejo que a Autonomia, Segurança tem sido fortalecidos ao par de proporcionar ao Enzo uma postura diferente em seu dia-a-dia. Postura essa que vai além do físico: costas mais eretas, passos mais firmes... uma Postura com mais confiança diante das dificuldades, dos desafios; mais empoderado.

 

fonte: https://www.vivibettoni.com/post/mobilidade?fbclid=IwAR25hcXVvKd9m4EYp3ueC39lAOp6P5LxbOEPg_EX1UEW-imLh0vqlh070Y4